quinta-feira, 6 de agosto de 2009


AGOSTO NO RIFONEIRO POPULAR

Pela Senhora de Agosto, às 7 é sol-posto
Pelo S. Lourenço vai à vinha e enche o lenço
Por Santa Maria de Agosto repasta a vaca um pouco
Por Santa Maria vai ver tua vinha e qual a achares tal a vindima
Primeiro dia de Agosto, primeiro dia de Inverno
Quando chover em Agosto não metas teu dinheiro em mosto
Quem em Agosto ara, riqueza prepara
Quem não debulha em Agosto, debulha contra seu gosto
Em Agosto secam os montes e em Setembro secam as fontes
Em Agosto toda a fruta tem seu gosto
Lá vem Agosto com os seus Santos ao pescoço
Não é bom o mosto colhido em Agosto
Nem em Agosto caminhar, nem em Dezembro marear
Pela Senhora de Agosto, às 7 é sol-posto

A FESTA DE AGOSTO

Uma vez apenas em cada ano. No tempo quente do Verão. Agosto.
De longe, de muito longe, no tempo; de perto e de longe, no espaço, rapazes e raparigas, novos, velhos e criançada não pensavam noutra coisa.
Que magia… Era a festa de Agosto. A festa da Senhora. De estalo!
De manhã, na igreja, agora restaurada pelo brasileiro – que também construiu a escola nova para substituir o velho pardieiro – três padres, não contando o pregador, davam a maior importância às solenidades.
À hora do sermão, não bulia uma mosca. Que bem falava o velho padre António! Aquilo, sim. O seu vozeirão subia e descia como mandava a circunstância, desde o tom altissonante do trovão ao cantar das águas cristalinas do ribeiro saltando de pedra em pedra. No fim, todos – orador e ouvintes – puxavam do tabaqueiro ou da ponta do avental; ele, para limpar o suor da calva monumental; os outros para afagar uma lágrima, condição indispensável para o nome do pregador ser respeitosamente repetido e desejado nos sermões das redondezas.
Depois, a procissão. Todos os santinhos, nos seus andores florescidos, vinham à rua para a volta grande, a volta solene das festas de Agosto – pela botica, rua do pelourinho, capela do Santo Cristo, para, de novo, tudo aos seus lugares.
E os pendões. E os anjinhos. E a multidão; cantando uns; rezando outros; agradecendo muitos as graças recebidas; pedindo ajuda para os seus problemas, quase todos.
Retornando à Igreja, quem o não fez antes da Missa, ia agora pagar as promessas e receber a estampa da Senhora.
À tarde e, depois, pela noite fora, a alegria redobrava. No adro. E, um pouco mais além, no carvalhedo – local de sombras maravilhosas e recantos delicados. Para a dança. Para a comezaina. Para o amor.
Chegada a hora, os foguetes alinhavam-se ao longo da ponte, como soldados na parada em Dia de Regimento. Os fogueteiros – dois – iam desafiar-se nos ares. Qual deles apresentaria fogo mais rijo?
— “Este ano, ganhou o de Ferreiroz.”
— “Ah fogueteiro de uma cana!”
Era assim, no passado, um passado longínquo, a festa de Agosto, a festa do dia 5, a Festa da Senhora.

A. Lopes Pires